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Raw Traveller

Explorar o mundo através das lentes: um blog de viagem e natureza, onde as fotografias são a principal inspiração para a criação de narrativas visuais únicas, repletas de detalhes e curiosidades.

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Explorar o mundo através das lentes: um blog de viagem e natureza, onde as fotografias são a principal inspiração para a criação de narrativas visuais únicas, repletas de detalhes e curiosidades.

22 de Julho, 2024

Qual será a importância das áreas verdes na vida das pessoas? Acredito ter a resposta!

O contacto com a Natureza tem vindo a desempenhar um papel fundamental na saúde das pessoas: seja na dimensão física, emocional ou mental. Esta necessidade veio a acentuar-se com a recente pandemia Covid-19, até chegar ao ponto em que o produto turístico “Natureza” teve um crescimento exponencial face aos outros produtos.

Do ponto de vista físico, a Natureza oferece o cenário ideal para a prática de atividades desportivas e de lazer, como caminhadas ou corridas. Além disso, a qualidade do ar nos ambientes menos urbanizados é geralmente superior, o que beneficia a saúde respiratória. Socialmente, este contacto proporciona oportunidades para interações sociais, principalmente quando se criam grupos de pessoas (conhecidas ou não) para realizarem uma actividade.

Atualmente, a população está concentrada à volta dos grandes centros urbanos e devido a questões financeiras ou de tempo, normalmente, só conseguem sair desse mesmo ambiente nas férias de Verão, sendo o contacto com a Natureza negligenciado ou reduzido ao mínimo. Desta forma, as áreas verdes, como grandes parques urbanos ou áreas florestais, assumem um papel crucial na vida destas pessoas: para além de melhorarem directamente a sua vida, acabam por tornar o ambiente mais saudável e livre de poluição. Adicionalmente, tem vindo a ser cientificamente provado que os espaços verdes contribuem para mitigar o fenómeno do "calor urbano", proporcionando sombra que ajuda a moderar as temperaturas dos grandes centros urbanos. São estas áreas verdes que proporcionam um primeiro contacto com a vasta rede de trilhos e percursos que existe em Portugal. Para além da dimensão social, os trilhos apresentam uma dimensão económica e ecológica: se por um lado são um produto turístico por excelência e atraem aficionados de todo o Mundo, por outro, são corredores ecológicos que facilitam a movimentação da fauna e a dispersão de sementes dentro do ambiente urbano.

Um exemplo de excelência, no que toca à gestão de uma área natural em zona urbanizada, é o Parque das Serras do Porto: 6000 hectares de área protegida na área metropolitana do Porto. Este enorme “pulmão verde” integra seis serras (Santa Justa, Pias, Castiçal, Santa Iria, Flores e Banjas) e dois vales fluviais (Sousa e Ferreira) que apresentam valores naturais e culturais únicos e principalmente uma vasta rede de trilhos pedestres, de BTT e de trailrunning. Nesta zona, podemos ver estruturas geológicas da Era do Paleozoico, bem como os mais diversos habitats criados pelos rios Ferreira e Sousa. O ponto geológico mais importante desta região é o anticlinal de Valongo (uma megaestrutura com mais de 350 milhões de anos, que esteve na origem destas serras). A vasta rede de trilhos, em que alguns casos nos levam a descobrir estes afloramentos rochosos, tem cerca de 59 km de extensão e integra uma grande rota (trilho com mais de trinta quilómetros) e dezassete pequenas rotas divididas pelos três concelhos envolventes (Valongo, Gondomar e Paredes). Mas não pensem que só há pontos de interesse para os amantes de geologia ou fotógrafos de paisagem! Esta região é o habitat de eleição para uma espécie endémica do território ibérico: a salamandra-lusitânica. A isto aliam-se inúmeras espécies de aves, repteis e insectos prontos a serem observados!

Ao escrever este texto, deparei-me com uma notícia no site da National Geographic que aborda a tese de doutoramento do investigador Ricardo Nogueira Mendes. Este investigador conseguiu concluir que áreas naturais próximas a grandes centros urbanos, como a Serra da Arrábida em Lisboa, são utilizadas pelos habitantes de maneiras que iam além do que os gestores do parque poderiam imaginar. No entanto, esta descoberta levantou questões pertinentes sobre a sustentabilidade das áreas protegidas, já que estas zonas carecem de vigilância, permitindo que as pessoas ajam sem restrições.

A concentração massiva de pessoas na malha urbana das cidades impõe limitações ao acesso regular a ambientes naturais, destacando-se a importância vital das áreas verdes dos centros urbanos. Exemplificando, o Parque das Serras do Porto, notável na sua gestão, é apenas um exemplo entre muitos, onde podemos incluir o Parque Florestal de Monsanto e a Serra de Sintra, ambos situados na região de Lisboa, ou a Ria de Aveiro entre Ovar e Mira. Estes espaços não oferecem apenas um refúgio natural e promovem a saúde física e mental, mas também atuam como “pulmões verdes” num meio altamente urbanização, evidenciando a necessidade premente de investimentos e políticas públicas que valorizem e preservem estas áreas para o benefício duradouro das comunidades urbanas.