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Raw Traveller

Explorar o mundo através das lentes: um blog de viagem e natureza, onde as fotografias são a principal inspiração para a criação de narrativas visuais únicas, repletas de detalhes e curiosidades.

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Explorar o mundo através das lentes: um blog de viagem e natureza, onde as fotografias são a principal inspiração para a criação de narrativas visuais únicas, repletas de detalhes e curiosidades.

14 de Março, 2025

Observação de aves no Estuário do Douro: entre a paciência e a fotografia.

A imprevisibilidade da observação de aves

Observar aves é sempre uma lição de paciência. Saí de casa com as expectativas altas, mas rapidamente percebi que a natureza tinha outros planos para mim. Por um lado, as tempestades, como a tempestade Jana, fazem com que as aves marinhas procurem abrigo nos estuários; por outro, o vento forte afasta-as das zonas mais abertas. Encontrar algo inesperado parecia uma possibilidade real, mas nada está garantido quando se trata da natureza.

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A espera sob a chuva

A chuva intermitente fez com que optasse por me abrigar nos observatórios do estuário do Douro. O vento frio trazia consigo o cheiro a sal e a terra molhada. O som da chuva a bater na estrutura de madeira misturava-se com o chamamento distante das gaivotas. Aqui, cresceu a esperança de ver alguma ave mais "fora do comum", mas, no fundo, só apareceu o comum... As expectativas tiveram de baixar, mas isso faz parte do processo. Às vezes, o verdadeiro desafio não é encontrar algo raro, mas aprender a ver beleza no que já conhecemos.

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Procurar novas perspetivas

A estrutura de madeira do observatório permite-me passar despercebido, mas a distância à linha de água torna a fotografia mais difícil. Decidi então percorrer o curto passadiço e ir abrigar-me no carro, à espera de uma aberta na chuva. Planeava aproveitar esse momento para explorar as laterais do estuário, onde a proximidade com a água poderia permitir composições mais interessantes.

Aqui, a proximidade com a areia é nula, no sentido em que o muro do parque adjacente termina na água do rio Douro. A solidão da paisagem reforçava a ideia de isolamento das aves naquele ambiente instável, criando uma narrativa visual mais intensa. Era o cenário perfeito para captar imagens mais melancólicas, onde o espaço negativo desempenhava um papel fundamental. Infelizmente (ou felizmente) não é premitido entrar na areia par conseguir enquadrar melhor o ambiente.

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O equilíbrio entre ambiente e retrato

Este género de fotografia não só dá a perceção, embora diminuta, do ambiente, como também mostra a fragilidade (ou não) das espécies. Fotografias de retrato são essenciais num ponto de vista artístico, mas, de um ponto de vista de storytelling, deixam muita informação de fora. Ambas as abordagens precisam de coexistir para representar uma espécie de forma completa.

Se, por um lado, gosto de incluir o ambiente com tons contrastantes (luz quente/fria, sombras/highlights), também gosto de retratar a ave como ela é. Cada imagem conta uma história diferente e, no fundo, é essa dualidade que torna a fotografia de natureza tão fascinante. O meu estilo reflete essa busca por equilíbrio: minimalismo com contraste de cores e luz, onde cada elemento tem um propósito dentro da composição.

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A beleza da incerteza

No final, percebi que a beleza da fotografia de natureza está na incerteza. Nunca sabemos o que vamos encontrar, mas é isso que torna cada momento especial.