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Raw Traveller

Explorar o mundo através das lentes: um blog de viagem e natureza, onde as fotografias são a principal inspiração para a criação de narrativas visuais únicas, repletas de detalhes e curiosidades.

Raw Traveller

Explorar o mundo através das lentes: um blog de viagem e natureza, onde as fotografias são a principal inspiração para a criação de narrativas visuais únicas, repletas de detalhes e curiosidades.

02 de Fevereiro, 2024

O storytelling é essencial para a fotografia: a história do rabirruivo-preto e da cobra-de-ferradura no Douro Internacional.

O storytelling na fotografia é uma ferramenta fundamental para criar imagens que não captam apenas um momento, mas também uma história envolvente e com significado. Através desta técnica, comumente utilizada no cinema, conseguimos transmitir uma mensagem ou provocar uma resposta emocional através das imagens capturadas. O contexto em que as fotografias são capturadas é tão importante como o próprio assunto: costuma dizer-se que o contexto é tudo! Todos os elementos de uma fotografia são essenciais para a narrativa que queremos contar; são pistas visuais e se temos alguns elementos que atrapalham a história o ideal é não os incluir. No entanto, é preciso ter algum sentido crítico! O storytelling anda no mesmo sentido da fotografia documental e, como tal, é importante não manipular a composição de forma a modificar a história. O modo como as imagens são organizadas e apresentadas é importante para conseguirmos criar uma linha narrativa perceptível: temos de pensar que estamos a fazer um filme com imagens paradas.

Toda esta narrativa só é conseguida e finalizada com o processo de edição: aqui conseguimos criar uniformidade e criar o ambiente que queremos transmitir com a nossa história; facilmente conseguimos criar uma sensação negativa ou positiva com a edição que fazemos. Ou, num outro lado do espectro, conseguimos ajudar a direcionar a atenção do observador para a mensagem que queremos transmitir.

Rabirruivo-preto

Quero contar-vos uma história que se passou algures em 2017, na região do Douro Internacional, mais propriamente no miradouro de Penedo Durão: o único sítio que conheço onde podemos observar grifos de perto e com prespectiva de cima para baixo. Esta pequena introdução pode levar a pensar que vou falar desta espécie tão emblemática como desprezada pelos portugueses, mas não vai ser hoje. O que vos quero contar é o primeiro e único momento “BBC: Vida Selvagem” que tive até aos dias de hoje! Como é de esperar, não vou falar de algo exótico na savana como estamos habituados a ver nestes programas, até porque o local não podia ser mais diferente; vou, sim, falar de duas espécies que podem ser observadas no nosso país.

A relação predador-presa é algo de dramático e que nos pode deixar algo desconfortável, no entanto é uma coisa primordial e essencial para a sobrevivência de uma espécie. A cobra-de-ferradura Hemorrhois hippocrepis apresenta uma cabeça achatada com uma mancha dorsal escura, com uma forma de ferradura. Com estado de conservação “pouco preocupante”, conseguimos observar esta cobra entre Abril e Outubro, nas zonas rochosas e com baixo coberto vegetal. Por outro lado, o rabirruivo-preto Phoenicurus ochruros é uma pequena ave, facilmente observada por todo o território nacional, sendo mais característica da zona norte do que da zona sul. Os indivíduos deste passeriforme insectívoro, apresentam uma cauda avermelhada e por isso são facilmente identificados. Estes são as duas espécies intervenientes nesta história que mostra a relação entre duas espécies: uma a lutar pela sua sobrevivência e outra a lutar pela sobrevivência da sua cria.

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A vocalização intensa da fêmea desta pequena ave fez com que os meus sentidos ficassem alerta, principalmente porque ela ficava parada em voo, sempre no mesmo sítio. De seguida, um barulho junto a umas folhas que se encontravam na fenda: e eis que por entre rochas e folhas aparece a imponente cobra de ferradura. Alguns centímetros mais à frente, encontrava-se um pequeno ninho com a cria desprotegida, sem que a progenitora pudesse fazer alguma coisa.

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Tentei representar esta breve história com os tons quentes e escuros que podem estar associados a ambientes rochosos (no caso dos tons quentes) e a um cenário de predação (no caso dos tons mais escuros). No entanto, é notório que a personagem principal é a cobra-de-ferradura e, como tal, toda a edição leva o observador a acompanhar esta espécie.

Era a verdadeira luta entre a sobrevivência: de um lado uma cria indefesa, do outro uma cobra a precisar de alimento.

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Em poucos minutos, num bailado lento e coreografado, a cobra de ferradura engoliu a cria por completo. As fotografias aqui retratadas contam esta história e são o perfeito exemplo de como um conjunto de imagens se podem juntar para criar uma linha narrativa. O momento foi tão fugaz que só deu para criar fotografias pormenorizadas do cenário; se fosse hoje, tinha trabalhado mais as fotografias mais amplas para conseguir criar uma história mais envolvente e ampla: claro que teria de ser um processo pós acontecimento, já seria algo pensado e com um objectivo especifico.

No storytelling temos de tirar os Wide, Medium, Tights e Details.

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Esta história na região do Douro Internacional é, portanto, um bom e simples exemplo do poder do storytelling na fotografia, levando-nos a testemunhar a luta pela sobrevivência entre uma fêmea de rabirruivo-preto e uma cobra-de-ferradura. Cada imagem detalhada contribui para uma narrativa envolvente, destacando a importância do contexto, da composição e da edição para transmitir uma mensagem emocionalmente impactante. Por fim, este relato não documenta apenas um evento na natureza, mas também nos convida a refletir sobre as complexas relações entre as espécies e os desafios enfrentados na luta pela vida.

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