(Estes post's têm como inspiração a rubrica do Sapo Viagens "Como fiz esta fotografia").

Na margem Este da Ria de Aveiro, deparo-me com embarcações ancoradas à espera dos pescadores. Aliado aos barcos, um cais palafítico estende-se para lá da costa. Um cenário perfeito para o objectivo desta manhã: criar uma fotografia panorâmica que contenha o nascer do sol e as embarcações. De Albergaria-a-Velha até ao local, que já tinha explorado meticulosamente dias antes, tinha uma viagem de quarenta minutos que me dava um período generoso para conceber a minha composição.

O céu aparentava ser promissor, ornamentado por nuvens altas, habilidosas em capturar os primeiros raios de luz. Precisamente às seis horas da manhã, após estacionar o carro numa rua secundária, iniciei uma pequena caminhada na estrada nacional que me conduziu até ao cais palafítico. A maré estava baixa e as possibilidades no cais eram limitadas; aliás, nenhuma embarcação estava ancorada. Alguns metros à frente, encontro a minha primeira possibilidade de fotografia! A blue hour ainda estava a decorrer e dava-me tempo para algumas fotografias de teste do barco que se encontrava à minha frente, mesmo ao lado do cais palafítico. Pouco depois, um fotógrafo surge e os seus movimentos enérgicos contrastam com a minha calma e tentativa de precisão para encontrar o ângulo ideal.

Os primeiros raios começam a tingir o horizonte e rapidamente percebi que não ia conseguir a panorâmica que ambicionava com esta composição. A penumbra ainda era predominante, exigindo uma longa exposição para deixar entrar luz suficiente para o sensor. Mas isso pode ser um problema. Não seria se estivesse a tentar fotografar objectos estáticos. Era hora de mudar a composição! Ao mesmo tempo, a calma é interrompida por pescadores que preparam meticulosamente a embarcação para a jornada de pesca. O tempo estava a escassear e a luminosidade já era suficiente para uma exposição mais curta, mas surge uma necessidade de cautela: o sol está prestes a emergir e estou a tentar fotografar contra o sol. Felizmente, o horizonte encontra-se mais nublado do que estava previsto que cria uma espécie de difusor da luz solar.

Caminhei em direção a uma pequena língua de areia e eis que encontro a composição perfeita. Precisava agir rapidamente, o relógio não estava do meu lado e o tempo para testar novos enquadramentos era escasso. Dentro de instantes, as nuvens iriam deixar de tapar o sol, comprometendo a panorâmica que tinha em mente. Embora fotografar contra o sol não seja o cenário perfeito, as vivendas bloqueavam a luz do amanhecer, deixando-me com poucas alternativas.

Três barcos alinhados: era exatamente o que procurava para criar a panorâmica desejada. Sabia que apenas seis fotografias verticais seriam necessárias para concretizar a minha visão. A luz da manhã era suave, mas já se fazia sentir, tornando possível tempos de exposição que ajudam a criar uma textura na água. O espelho de água refletia o alaranjado do céu, criando um equilíbrio de cores que ajuda a unir os vários elementos que compõem a fotografia. O sol estava a nascer à esquerda da composição, o que criava um foco intenso de luminosidade que se ia desvanecendo com o aumento da distância a esse ponto. As algas, com sua tonalidade verde vibrante, criam uma âncora visual no primeiro plano o que ajuda a criar um contexto em relação ao estado da maré.

Esta fotografia foi tirada em 2020 e atualmente teria tido uma abordagem diferente. Tinha aproveitado para fotografar os detalhes das algas para criar fotografias mais íntimas e visualmente impactantes. Apesar do relato fazer parecer que foi tudo muito repentino, a transição da luz era lenta e permitia trabalhar em várias composições.