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Raw Traveller

Explorar o mundo através das lentes: um blog de viagem e natureza, onde as fotografias são a principal inspiração para a criação de narrativas visuais únicas, repletas de detalhes e curiosidades.

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Explorar o mundo através das lentes: um blog de viagem e natureza, onde as fotografias são a principal inspiração para a criação de narrativas visuais únicas, repletas de detalhes e curiosidades.

03 de Outubro, 2023

Fotografia revelada: o encontro com a cabra-montês em Pitões das Júnias (Gerês).

(Estes post tem como inspiração a rubrica do Sapo Viagens "Como fiz esta fotografia").

A Fonte Fria em Pitões das Júnias, no Parque Nacional da Peneda-Gerês foi o plano de fundo para a criação das duas fotografias que hoje vos trago. Antes de vos falar delas, preciso de contar a história de como vim ter a este lugar.

Se procurarmos nas mais diversas aplicações de trilhos, é fácil encontrarmos rotas GPS que nos levam até ao local em questão; e qual é a importância deste pormenor? Este trilho não tem marcação oficial e temos de estar à vontade para seguir as marcações com mariolas que ainda hoje são utilizadas pelos pastores. Foi precisamente a segunda opção que decidi usar aliada a informações que tinha apontado no telemóvel sobre onde me dirigir e alguns pontos de referência ao longo do trilho. As casas de pedra tradicionais e o ambiente rural foram o cenário de partida para esta pequena aventura, mal eu sabia que as paisagens rochosas escondiam garranos, abutres e o tema deste post: a cabra-montês Capra pyrenaica. Este bovídeo de pelo curto e escuro com cornos curtos e curvados é endémico da Península Ibérica e encontra-se ameaçado devido à perda de habitat; encontrar um indivíduo seria algo único, encontrar um grupo enorme foi algo marcante.

Estava a almoçar no planalto da Fonte Fria quando ouço um barulho de pedras a rolar; nada de especial, dado que estava rodeando por picos rochosos. No entanto, os binóculos revelaram a presença, ao longe, de um macho seguido por duas fêmeas e uma cria: estava na hora do jogo da paciência! Desloco-me em zigzag pelo meio das pedras gigantes de forma que não se assustem com a minha presença: ando uns metros, paro uns minutos. Andar atrás destes animais é um jogo de muita paciência até chegarmos ao ponto em que estamos o mais perto que conseguimos. Os exímios escaladores encontravam-se na encosta de uma parede rochosa quando tirei estas duas fotografias à fêmea que ficou para trás a garantir que não me aproximava em demasia, felizmente tinha comigo a Sony FE 200–600 mm F5.6–6.3 G OSS que me permite manter uma distância de segurança: poucos minutos depois, tinha estas duas fotografias tiradas.

Por vezes, um simples retrato é o suficiente para criar algo que representa o nosso objecto de estudo, mas se conseguirmos incluir o ambiente que o rodeia, a fotografia ganha uma nova dimensão. Conseguimos dar um contexto que transporta o observador para o momento e local em que nos encontramos e para mim esse contexto é importante, principalmente porque estou a falar de duas fotografias que ainda hoje estão gravadas na minha memória e um dia irão estar gravadas na parede da minha casa. Apresentar-vos duas fotografias também não foi uma escolha inocente! Estes dois momentos separados por escaços minutos revelam duas atitudes diferentes do mesmo indivíduo: na fotografia da direita vemos a desconfiança que rapidamente passou a confiança e a descontração que se encontra visível na segunda fotografia. Este é o poder do storytelling e a prova de que às vezes é preciso mais do que uma fotografia para contarmos a big picture; para mim, estas duas fotografias complementam-se e, apesar de viverem isoladamente, ganham uma história quando apresentadas em conjunto: são as duas faces da mesma moeda.

Tudo parecia terminado quando ouvi mais pedras a cair à minha direita e vi que havia mais um indivíduo a atravessar as escarpas a escassos metros da pedra onde me encontrava; ainda deu para criar uma panorâmica. Satisfeito e sem bateria na máquina (erro crasso), regressei à árvore onde tinha deixado a minha mochila reparei que estava rodeado (a uma distância de segurança) de um grande grupo de cabras-montês em trânsito. A luz já baixa criou um cenário que tinha sido fenomenal fotografar, mas não tinha bateria na máquina nem grande qualidade de fotografia no telemóvel. No entanto, não me arrependo e tenho as silhuetas das cabras gravadas na minha memória: sem dúvida foi um dia que nunca irei esquecer.

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