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Raw Traveller

Explorar o mundo através das lentes: um blog de viagem e natureza, onde as fotografias são a principal inspiração para a criação de narrativas visuais únicas, repletas de detalhes e curiosidades.

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Explorar o mundo através das lentes: um blog de viagem e natureza, onde as fotografias são a principal inspiração para a criação de narrativas visuais únicas, repletas de detalhes e curiosidades.

09 de Junho, 2023

Explorar o trilho PR2 ALB: os três moinhos da Ribeira de Fráguas (Albergaria-a-Velha).

O Trilho dos Três Rios é uma rota pedestre (PR 2- ALB) localizada em Albergaria-a-Velha, na região Centro de Portugal. Este trilho é caraterizado por passar pelos três rios da região: o Rio Vouga, o Rio Caima e o Rio Antuã. Já tive oportunidade de realizar o percurso completo e recomendo! Este trilho leva-nos por pontos de interesse cultural, desde pontes romanas até lagares, bem como as inúmeras aldeias pitorescas. É um caminho difícil, mas que pode ser feito com calma porque está bem sinalizado.

No entanto, só me vou focar nos primeiros três quilómetros do trilho (caso o início seja em Ribeira de Fraguas) onde podemos encontrar três moinhos de água típicos do concelho de Albergaria. Decidi aceitar o desafio e fotografar estas duas estruturas em condições pouco favoráveis. O vento e o céu encoberto dificultaram a tarefa que teria sido facilitada se houvesse nevoeiro, mas fica para a próxima. Mas em primeiro lugar um pouco de História e contextualização.

O núcleo de moinhos de água do concelho de Albergaria-a-Velha eram utilizados para moagem de cereais. Datados sobretudo no século XVIII e XIX, com recursos a materiais de construção locais, estes encontram-se nas margens dos rios e ribeiros; a água era desviada pela levada diretamente até ao cubo onde a pressão aumentava pelo efeito de gravidade. Atualmente, alguns dos moinhos foram restaurados e estão abertos ao público como museus, onde é possível aprender sobre o funcionamento e a importância dessas estruturas tradicionais. Além disso, foi criada uma rota que nos permite visitar os vários moinhos.

O cemitério de Ribeira de Fráguas é um bom sítio para se deixar o carro e começar o caminho. As setas levam-nos por caminhos estreitos ladeados por muros de pedra e árvores, uma zona verde que é indicativa do tipo de terreno que vamos enfrentar: terra, árvores e água. A ponte leva-nos até à estrada asfaltada que nos encaminha para a entrada do parque de merendas da Ribeira de Fráguas. Estas fotografias ilustram bem o ambiente escuro e sombrio do nascer do sol; na verdade enquadram-se bem no meu estilo de edição.

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À entrada do parque, vemos as típicas tabuletas a indicar toda a fauna e flora que podemos encontrar, mas por mais entusiasmante que seja eu sei que dificilmente irei ver o lagarto de água ou a difícil lontra. O mais certo é só ter sorte a fotografar a fauna, nomeadamente os fetos ou as dedaleiras que compõem este habitat. As setas indicam que temos de seguir em frente até chegarmos ao primeiro moinho.

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Esquivo e envolto numa vegetação verdejante, o Moinho de Baixo tem um casal de mós usado para moer milho e esporadicamente trigo, que é movimentado pela passagem da água do rio Fílveda. Um olhar mais atento consegue ver a água a passar por dentro do moinho. Apesar de ser uma fotografia única, não consegui captar a verdadeira essência retratada pela passagem de água. A ausência de galochas ou a falta de uma ultra-wide fez com que não conseguisse captar uma fotografia aproximada ou afastada da passagem da água pelo interior do moinho: definitivamente é uma fotografia que ficou gravada para uma futura passagem por aqui. No entantoconsegui captar uma boa fotografia que retrata o ambiente envolvente do moinho.

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O rio indica a direção que temos de tomar para chegar aos Moinhos da Quinta da Ribeira! Estes moinhos têm características similares ao Moinho de baixo, mas aqui conseguimos ver a levada que conduz a água até às mós. Como um casal idoso, estes dois moinhos encontram-se interligados pelo mesmo rio até ao fim dos seus dias; um nunca viverá cem por cento feliz sem o outro. O sol já tinha nascido e tentava penetrar pela fina camada de nuvens que pairavam no céu- esta luz foi suficiente para criar uma referência e uma âncora que levam o nosso olhar até ao museu. O enquadramento entre as árvores e a leading line da levada ajudam a criar um ponto de foco nos dois moinhos, mas sinto que falta um elemento de separação nos vários planos da fotografia: o nevoeiro faria a diferença.

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O vento aumentava a falta de condições fez com que o meu foco mudasse para a fauna deste local. Na verdade, uma história só fica completa quando temos o quadro geral, que nos enquadra todo este misticismo que os moinhos nos podem trazer. Segui para montante até dar por mim a passar por caminhos estreitos, onde um passo em falso me faria molhar os pés e pior partir a máquina. Não é uma parte complexa, mas é um parte mais técnica que mesmo assim pode resultar em fotografias interessantes e ricas. Explorar e fotografar é procurar as coisas menos óbvias que muitos passariam sem reparar: árvores semi caídas podem representar o caos provocado pelo vento que se fazia sentir neste dia; as marcas amarelas e vermelhas indicam que estamos no caminho certo e que vamos em direção a algo. Isto também é fotografia e ajuda a descrever o local onde nos encontramos. Não se fiquem pela bucket list photo e tentem fotografar aquilo que vos apela, mas que pode não ganhar um prémio. É isso que eu tento: contar a história, neste caso a história de três moinhos.

 

A textura de uma árvore sempre foi algo que me atraiu e apesar de parecer sempre igual, dificilmente encontramos as mesmas curvas, dobras ou marcas em duas árvores. É algo único que só conseguimos ver se pararmos para olhar com atenção. Estes seres vivos necessitam tanto da água deste rio como os Humanos necessitavam para movimentar as mós dos moinhos, hoje já não estão operacionais e por isso é altura destes gigantes de casca encarquilhada tomarem contas dos mesmos e da água que ainda corre com força.

Por fim uma dedaleira, Digitalis purpurea, para nos lembrar que até as formas mais pequenas e simples necessitam da água, outrora usada para quebrar pequenos grãos, para se manterem vivas.