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Raw Traveller

Explorar o mundo através das lentes: um blog de viagem e natureza, onde as fotografias são a principal inspiração para a criação de narrativas visuais únicas, repletas de detalhes e curiosidades.

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21 de Julho, 2023

Explorar o Percurso do Rio Jardim: explora o encanto do trilho mais curto da BioRia.

 

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Hoje é dia de falar do percurso mais pequeno que a BioRia tem para nos oferecer! Mas não achem que o tamanho é directamente proporcional à falta de beleza, pois em cerca de dois quilómetros temos, o que para mim é, um dos percursos mais interessantes de se fazer. Em forma de “U”, o Percurso do Rio Jardim leva-nos por um bosque que liga o Esteiro de Canelas ao Esteiro de Salreu, sempre acompanhados pelo seu rio homónimo. Mas primeiro, deixo-vos com uma pequena contextualização do local.

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O município de Estarreja tem uma frente ribeirinha com uma extensão de 500 quilómetros, onde podemos encontrar diversos esteiros e ribeiras (que mais tarde serão objecto para futuros posts). Esta Zona Húmida, pertencente à Ria de Aveiro, é modelada por um mosaico de habitats; desde o “Bocage”, até zonas agrícolas ou de caniço e junco. Esta mistura faz com que, em 500 quilômetros, consigamos juntar diversos trilhos e habitats que se encontram sobre a alçada do Património Natural da BioRia. Este Património é um exemplo inspirador da união entre a Natureza e Homem: aqui somos convidados a valorizar o papel das pessoas que são responsáveis pela conservação deste local.

 

A luz da famosa “golden hour”, ao nascer ou pôr-do-sol, é a melhor altura para se visitar a BioRia; mas, para dizer a verdade, a primeira luz da manhã é o ideal para fotografar a BioRia: geograficamente, os trilhos estão virados para oeste. No entanto, durante a semana, a minha disponibilidade é exclusiva para o pôr-do-sol e para a calma que este momento oferece.

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Existem duas hipóteses para chegar ao trilho: ou vamos de comboio (a partir do Porto ou de Aveiro) até ao apeadeiro de Salreu ou vamos de carro até ao mesmo apeadeiro ou até à sede da BioRia. Daqui e até ao início oficial do trilho distam aproximadamente 500 metros, feitos por uma ciclovia alcatroada que, contra todo o objectivo do seu uso, também serve de ligação entre os diversos campos agrícolas. A paisagem agrícola (característica desta região, à semelhança do artigo da semana passada) transporta-nos para um Portugal rural, que para as pessoas menos habituadas pode parecer estranho. Entre campos agrícolas e bandos de pardal-comum Passer domesticus ou de bico-de-lacre Estrilda astrild, a monotonia só é quebrada pelo ocasional alfa-pendular. Chegou a hora de iniciar o trilho!

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Podemos dividir o trilho em duas partes: uma de bosque e outra de terrenos usados para o cultivo do arroz."Os primeiros passos são feitos com a constante companhia do Rio Jardim que, nesta altura do ano e devido aos vários diques que os agricultores fazem, apresenta pouca água. Dá que pensar: como é que estas águas (com indícios de lixiviação inerente ao uso de pesticidas) podem ser a casa de espécies como a lontra europeia lutra lutra ou o rato de água Arvicola sapidus? Do lado esquerdo, temos a presença constante dos campos agrícolas divididos pelos corredores ecológicos característicos do Bocage. Aqui,podemos encontrar uma espécie exótica bastante chamativa: o Bispo-de-coroa-amarela Euplectes afer. É durante a época de nidificação (Primavera e Verão), que este passeriforme é mais vistoso e a sua cor amarela e voos horizontais fazem com que seja uma ave bastante fácil de observar, principalmente quando se encontra a vocalizar junto aos juncos ou espigas de milho.

 

A partir daqui, entramos nos campos que estão a ser preparados para o cultivo de arroz onde, no Verão, temos a oportunidade de ver os padrões criados pelas fraturas que as plantas emergentes causam no solo. No Inverno, esta parte do percurso é uma maravilha para os amantes de birdwatching ou de fotografia de vida selvagem, pois muitas aves usam estes campos como zonas de alimentação.

 

O trilho termina no mesmo estradão onde começou e por isso basta virar à esquerda para irmos até ao apeadeiro de Salreu. Fica evidente que este trilho é uma prova que a agricultura não é o “inimigo número um” da biodiversidade e que os corredores ecológicos criados podem ser um verdadeiro refúgio para a vida selvagem. O trilho do Rio Jardim é mais do que um simples passeio: é uma conexão com a essência da vida selvagem e uma oportunidade de apreciar a beleza de algumas das espécies mais emblemáticas da região.

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