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Raw Traveller

Explorar o mundo através das lentes: um blog de viagem e natureza, onde as fotografias são a principal inspiração para a criação de narrativas visuais únicas, repletas de detalhes e curiosidades.

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15 de Dezembro, 2023

Entre Asas e Planícies: fotografar a Abetarda e o Sisão nas deslumbrantes planícies alentejanas de Castro Verde.

O Alentejo, com a sua vasta extensão de planícies onduladas e clima caracteristicamente seco, proporciona um ambiente propício ao aparecimento de diversas espécies de aves. As aves estepárias, conhecidas pela capacidade de habitarem áreas abertas e semiáridas, encontram em Castro Verde um habitat ideal. Em Portugal, temos 10 espécies: alcaravão Burhinus oedicnemus, calhandrinha-comum Calandrella brachydactyla, calhandra-de-dupont Chersophilus duponti, tartaranhão-caçador Circus pygargus, codorniz Coturnix coturnix, cotovia-de-poupa Galerida cristata, calhandra-real Melanocorypha calandra, abetarda Otis tarda, cortiçol-de-barriga-branca Pterocles alchata, cortiçol-de-barriga-preta Pterocles orientalis e o sisão Tetrax tetrax. No entanto, é de salientar que a Pterocles alchata não ocorre na região de Castro Verde, pois ó existe um pequeno nucleo populacional na Beira Baixa, por outro lado a Chersophilus duponti encontra-se, supostamentem, extinta em Portugal desde o século XIX.

É precisamente na região de Castro Verde que podemos encontrar 80 % da população destas aves no nosso território. Esta vila está localizada a 170 km de Lisboa e destaca-se pelas vastas planícies, importância ornitológica e presença de vestígios históricos romanos e árabes. A pastorícia extensiva destinada à produção de azeite, vinho e cereais é um dos principais factores para o surgimento de algumas destas espécies, que muito precisam destes mosaicos lavrados ou em pousio.

Decorria o ano de 2020, quando fiz uma pequena viagem dedicada à observação de aves na região de Castro Verde. Já tinha ouvido falar desta zona como sendo um dos hotspots mais importantes do país e não podia ter ficado mais encantado com o que fui observando: em cada esquina havia uma ave pousada; em cada riacho algo pronto a ser observado. É necessário algum conhecimento mais técnico para se conseguir encontrar algumas destas aves, por exemplo, só consegui ver o alcaravão através dos binóculos e já sem grande esperança para o ver; o sisão só foi identificado através do chamamento e ainda demorei alguns minutos a localizá-lo no meio das ervas; o cortiçol-de-barriga-preta só mesmo num voo de fuga. Uns binóculos e um conhecimento prévio do chamamento é essencial para se encontrar estas espécies: mas há sempre uma excepção! A abetarda é uma ave majestosa e a maior e mais pesada ave voadora que podemos encontrar na Europa; esta é facilmente avistada em campo aberto e recomendo a sua observação na altura do acasalamento (aliás, recomendo o mesmo para o sisão). Das espécies acima mencionadas, só não consegui observar a calhandrinha-comum, calhandra-de-dupont, calhandra-real e o cortiçol-de-barriga branca: ainda tenho motivos para voltar a este local!

Hoje, pretendo falar sobre o final de tarde dedicado a fotografar a abetarda e o sisão num pequeno campo agrícola não muito longe de uma estrada nacional.

A abetarda apresenta um acentuado dimorfismo sexual, destacando-se os machos pela sua constituição corporal mais pesada, podendo ser de duas a quatro vezes superior, e pela dimensão, que é 30 a 50% maior em comparação com as fêmeas. Os machos adultos desta espécie podem atingir até 14 kg e exibir uma envergadura de 260 cm. Devido a esta presença imponente, é frequentemente considerada a "rainha das estepes", sendo que março marca o início das impressionantes exibições nupciais. A coloração das penas é de tonalidade castanha, enquanto o pescoço apresenta uma tonalidade esbranquiçada. Devido ao seu comportamento extremamente desconfiado, as abetardas raramente se deixam avistar de perto, tornando difícil a observação destes detalhes específicos. Castro Verde é o local em Portugal onde podemos encontrar metade (cerca de 500 indivíduos, segundo o Aves de Portugal) da sua população.

Abetarda 16_9 (2)

O sisão é uma ave singular, caracterizada pelo pescoço escuro e pelo seu voo peculiar, assemelhando-se a uma abetarda em ponto pequeno e frágil. O macho, na época nupcial, distingue-se facilmente pelo pescoço negro com listas brancas, enquanto a fêmea apresenta uma coloração acastanhada. Infelizmente, esta espécie enfrenta vários desafios para manter a sua população estável, chegando mesmo a estar em perigo de extinção em Portugal. Esta redução está intimamente ligada à mecanização da agricultura e ao recurso a práticas agrícolas intensivas. Esta espécie beneficia de uma gestão agrícola baseada no cultivo extensivo de cereais, através da criação de um mosaico de habitats que inclui pousios, searas e áreas cultivadas.

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Em conclusão, destaco as duas espécies mais emblemáticas desta região, levando-nos a refletir sobre as nossas ações. A perda de habitat devido à agricultura intensiva e as mudanças no uso da terra são apenas a ponta do iceberg no que diz respeito à gestão destas áreas. Atualmente, o Alentejo enfrenta um enorme desafio para combater as práticas de monoculturas intensivas. A conservação destas espécies e dos seus habitats torna-se, portanto, uma prioridade essencial para garantir a sobrevivência e o equilíbrio do ecossistema peculiar e único do Alentejo.

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