Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Raw Traveller

Explorar o mundo através das lentes: um blog de viagem e natureza, onde as fotografias são a principal inspiração para a criação de narrativas visuais únicas, repletas de detalhes e curiosidades.

Raw Traveller

Explorar o mundo através das lentes: um blog de viagem e natureza, onde as fotografias são a principal inspiração para a criação de narrativas visuais únicas, repletas de detalhes e curiosidades.

31 de Março, 2023

Descobre a beleza da Serra da Estrela: caminhar pelo trilho que nos leva até ao Covão dos Conchos.

A Serra da Estrela oferece uma panóplia de cenários e de oportunidades turísticas: desde actividades gastronómicas até actividades ao ar livre. Com ou sem neve? Isso não interessa, a Serra da Estrela é um local digno de ser apreciado em tons de verde e amarelo ou em puro branco. Venho por isso falar do trilho que nos leva até um dos mais recentes achados, o Covão dos Conchos. O turismo tem um poder brutal de tornar o desconhecido em conhecido; uma fotografia aqui, um influencer ali e pumba as notícias ficam repletas de informação sobre um misterioso "buraco" numa lagoa em plena Serra da Estrela. Mas vamos a factos: o "buraco" já existe desde 1955 e é usado para canalizar a água da Ribeira das Naves até à Lagoa Comprida. Pelo túnel a viagem é curta e dura um quilómetro e meio. A pé a viagem é mais longa, mas muito mais cénica! É dessa viagem que vos venho aqui falar.

Antes de tudo, é necessário referir que apesar de ser um trilho com poucas possibilidades para enganos, o mesmo não está bem sinalizado e por isso é preciso ter alguma cautela! Levar um ficheiro GPS descarregado numa aplicação é sempre uma segurança que devemos ter, principalmente em dias de baixa visibilidade. Com condições opostas é sempre importante levar protector solar e muita água. Não nos podemos esquecer que estamos a uma altitude que varia entre os mil e quinhentos e os mil e setecentos metros, o que indica que a vegetação rasteira é predominante e que não proporciona grandes oportunidades para nos abrigarmos das condições climatéricas nos dias de maior calor. Em dias de nevoeiro ou neve existe uma grande falta de árvores que ajudem a criar pontos de referência. Primeiro a nossa segurança e só depois as fotografias!

Carro estacionado e a mochila às costas, é hora de começar o caminho. Mas já lá vamos! Fiz este trilho em duas ocasiões distintas: a primeira em condições de primavera; a segunda em condições de inverno. As fotografias retratam a dualidade dos dois mundos: Um mundo quente contra um mundo frio. Nas primeiras três fotografias vemos uma Serra pintada de verde sob um céu azul que mais tarde veio a materializar-se num pôr-do-sol ténue pincelado com cores suaves, transmitindo uma sensação de calma condizente com o trilho que hoje vos trago. Contrastando com este cenário temos o alvoroço trazido pelo frio e pela neve retratado nas últimas quatro fotografias. O nevoeiro denso alia-se às cores outonais da Serra da Estrela ajudando a criar fotografias com as cores características desta altura do ano. O verde é uma cor difícil de trabalhar devido à sua saturação e predominância na paisagem, mas consegue ganhar uma nova vida quando conjugado com os tons ténues que o nevoeiro cria através da luz difusa do sol. Com o passar das horas, a pouca luz que penetra até ao solo vai desaparecendo dando origem às cores frias da chuva e da neve. Os últimos quilómetros foram debaixo de um pequeno nevão acompanhado com nevoeiro denso e que dificultou a captura de fotografias. Tornou-se um momento exclusivo da nossa memória.

Ao chegar à Lagoa Comprida somos presenteados com o cenário típico da Serra da Estrela: uma casa com produtos regionais e com os cães da raça Serra da Estrela para venda (em pleno século XXI e ainda achamos esta prática normal?). No  século XX, esta lagoa sofreu obras que resultaram na criação de uma barragem, havendo o aumento significativo do caudal. A partir deste momento, a Lagoa Comprida passou a ser o maior reservatório de água da Serra da Estrela. O trilho linear de nível moderado e com uma extensão de cinco quilómetro, tem a Lagoa Comprida como plano de fundo em grande parte do seu percurso. Ao longo dos anos, a água tem vindo a escavar a rocha criando vistas de cortar a respiração; somos constantemente assombrados por uma sensação de pequenez que só é interrompida com o deslumbre de uma pequena casa. "Aquela pessoa é mesmo sortuda" foi o único pensamento que me surgiu ao ver aquela casa com uma vista incrível sobre a montanha e toda a lagoa. Mas com uma distância temporal e ao olhar para a fotografia penso outra coisa: Como é que foi permitido criar uma propriedade nesta zona? É certo que se encaixa na paisagem e dá imagens bastante bonitas, mas esta dicotomia entre Homem e Natureza é bastante estranha. Os quilómetros passam e com isso chegamos à parte mais difícil do trilho que em condições de neve ou chuva pode ser um enorme desafio. A subida que temos pela frente é realizada por cima de pedras que dão a sensação que esta parte do caminho era um antigo curso de água que secou com o tempo. A chuva que caiu nas semanas anteriores tornou esta subida numa espécie de canyoning invertido, mas com a maior das paciências e com muita cautela lá conseguimos fazer a subida. Ao chegar ao Covão dos Conchos, podemos admirar a impressionante lagoa formada pela erosão da água em rochas calcárias. As margens da lagoa estão cercadas por uma vegetação exuberante. Além disso, o som da água a cair é uma verdadeira sinfonia natural. 

Não posso terminar sem fazer o alerta que este trilho se encontra no Parque Natural da Serra da Estrela e como tal está inserido numa área protegida, por isso é necessário respeitar as diversas regras de preservação ambiental. Lembrem-se "deixem os lugares numa condição melhor à que encontraram".

7 comentários

Comentar post