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Raw Traveller

Explorar o mundo através das lentes: um blog de viagem e natureza, onde as fotografias são a principal inspiração para a criação de narrativas visuais únicas, repletas de detalhes e curiosidades.

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12 de Maio, 2023

Córdoba: explorar a beleza da cidade através da lente

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Córdoba, localizada na região da Andaluzia, apresenta uma rica história que remonta há mais de 2.000 anos. Originalmente, esta cidade foi fundada pelos romanos, no século II a.C. Durante a Idade Média, Córdoba tornou-se um importante centro cultural e intelectual no mundo islâmico, tendo como epicentro a universidade. Em 1236, a cidade foi conquistada pelos cristãos, tornando-se parte do Reino de Castela. Durante este período, muitas das estruturas islâmicas foram convertidas em edifícios cristãos (como vamos ver mais à frente). Actualmente, Córdoba é uma cidade moderna e vibrante que ainda preserva muito da sua cultura e tradições.

A chegada a Córdoba não foi fácil! Foram precisas duas horas para conseguirmos estacionar. O centro histórico é composto praticamente por ruas de sentido único e isso faz com que tenhamos de andar aos círculos para ir de um sítio para o outro. Se a isto aliarmos o facto de ser sexta-feira à noite numa cidade conhecida pelas suas festas de despedida de solteiro (mais à frente tocarei no assunto), estacionar torna-se numa tarefa só ao alcance do monge mais relaxado do mundo.

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O dia começou relativamente cedo e isso deveu-se a um bom motivo: a Mesquita-Catedral de Córdoba. É provavelmente o monumento mais importante da cidade e certamente o mais fascinante. A sua edificação data de 784 d.C. durante a ocupação muçulmana e, ao longo dos séculos, foi expandida e renovada várias vezes, sendo que nessa época serviu como importante centro religioso e cultural do Califado de Córdoba. No entanto, com a reconquista cristã (1236) a Mesquita foi transformada numa Catedral. E é neste ponto que as coisas ficam interessantes! A Catedral foi construída dentro da Mesquita, que passou a incluir uma nave central, um coro e capelas laterais. Após esta construção, a Mesquita-Catedral passou por várias mudanças arquitectónicas ao longo dos séculos: no século XVI, foi adicionada uma capela barroca; no século XVIII, o estilo rococó foi introduzido em algumas das capelas; no século XIX, a Catedral passou por uma grande restauração liderada pelo arquitecto espanhol Vicente Lampérez. Hoje, a Mesquita-Catedral de Córdoba está classificada como Património Material Imóvel pela UNESCO.

Ainda não eram 8h30 e já se estava a formar uma pequena fila à entrada do pátio que dá acesso à Mesquita-Catedral, parece que não somos os únicos a saber que a entrada é gratuita entre as 8h30 e as 9h30! A cidade, que horas antes fervilhava de emoção, estava deserta e nem parecia a mesma; as ruas movimentadas deram lugar a ruas calmas onde o som dos passeriformes era o ruído de fundo. A arquitectura clássica aliada com a primeira luz do dia dá uma beleza única às fotografias tiradas, principalmente se forem conjugadas com as poucas pessoas que andam na rua. Já na Mesquita-Catedral, reparo numa freira a falar com uma pessoa e o pensamento foi instantâneo “dava uma boa fotografia!” Hora de entrar na Mesquita-Catedral.

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Acordar cedo tem a vantagem de termos tempo para andar a passear pelas diversas ruas de Córdoba. Mas antes de vos falar das ruas, vou falar de um jardim incrível (parece ser uma tendência nesta viagem a Espanha). Vamos em direcção ao Alcázar de los Reyes Cristianos, não sem antes fazermos um pequeno desvio pela Judiaria e a sua Sinagoga. Esta parte da cidade é bastante encantadora! As ruas estreitas deste bairro levam-nos até ao exterior da muralha onde, ao passarmos pela Puerta de Sevilla, acabamos junto ao Alcázar. Este monumento foi construído no século XIV durante o reinado de Alfonso XI de Castela e hoje é classificado como Património Material Imóvel pela UNESCO. A sua impressionante arquitectura combina três estilos arquitectónicos: Gótico, Mudéjar e Renascentista. Na Torre dos Leões conseguimos ter uma vista panorâmica sobre Córdoba e o rio Guadalquivir. Os jardins são outro destaque; estes apresentam fontes, estátuas e uma grande variedade de plantas e flores.

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Outro ex-libris que vos quero trazer é a Puente Romana que liga as duas margens do importante Guadalquivir e data, ainda que sem certeza, do século I a.C. durante a ocupação romana. Com 16 arcos semicirculares e um comprimento total de cerca de 247 metros, a ponte apresenta duas torres defensivas datadas da Idade Média.

Estávamos perto da hora de almoço quando atravessamos a ponte com o objectivo de ir ao brunch, mas primeiro tivemos que parar para admirar a beleza frágil que o rio Guadalquivir apresenta. Ao contrário de Sevilha, o caudal em Córdoba é bem mais baixo devido à presença de uma linha de antigos moinhos que infelizmente já se encontram em estado avançado de degradação. No entanto, houve outra coisa que me chamou à atenção! Não um, não dois, mas sim três Garças Noturnas Nycticorax nycticorax e várias Garças-brancas-pequenas Egretta garzetta. É caso para dizer: por esta é que eu não estava à espera!

Os Pátios! Falta dar o merecido destaque a esta paixão Andaluza. Os Pátios Cordobeses são uma forma de expressão artística dos habitantes desta cidade. Estes são caraterizados por serem pátios internos, decorados com flores, plantas, azulejos e elementos tradicionais. Esta tradição remonta aos tempos romanos, quando as casas da região eram construídas em torno de um pátio central para criar uma zona de protecção contra o calor Andaluz. Mas é durante o Festival dos Pátios, realizado em Maio, que os mesmos ficam abertos ao público. Isto porque muitos deles estão em zonas privadas e a sua visita só é autorizada nesta altura. Os Pátios Cordobeses são reconhecidos como Património Cultural Imaterial pela UNESCO desde 2012.

Nunca achámos que as despedidas de solteiro eram um problema nesta parte de Espanha, aliás bastou uma pequena pesquisa para ver a magnitude da questão! Não vimos uma, nem duas, nem três despedidas de solteiro! Acho que precisávamos dos dedos de quatro mãos para contar a quantidade surreal de pessoas vestidas a rigor no meio das ruas. Não ficámos a sentir que isso prejudicou a nossa visita ou que nos impediu de fazer o quer que seja, mas ficámos com a sensação de estarmos a viver dentro de um filme americano ou de termos ido parar a Ibiza ou algum desses destinos paradisíacos. Quem é que se iria lembrar que Córdoba podia ser a “Meca” das despedidas de solteiro?

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Não senti que Córdoba fosse a cidade mais fotogénica desta pequena viagem à Andaluzia (vejam o meu artigo de Sevilha e do Complexo de Alhambra para complementar este artigo), mas é sem dúvida uma cidade rica em história e cultura. Estamos a falar de uma cidade com cinco locais classificados como Património Mundial da UNESCO. Neste artigo só falo de três, mas todo o centro histórico está sobre esta bandeira, assim como a Medina Azahara na periferia da cidade (é um local de que não falo, mas que vale muito a pena visitar). Ao nível fotográfico é um paraíso para qualquer fotógrafo mais vocacionado para a arquitectura.

Para finalizar, deixo o itinerário daquilo que considero obrigatório visitar.

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