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Raw Traveller

Explorar o mundo através das lentes: um blog de viagem e natureza, onde as fotografias são a principal inspiração para a criação de narrativas visuais únicas, repletas de detalhes e curiosidades.

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29 de Setembro, 2023

Bruges: a cidade em que a arquitectura medieval se interliga com o Natal.

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Bruges é uma pequena cidade localizada no noroeste da Bélgica, a poucos minutos de comboio da capital, Bruxelas: a “Veneza do Norte”, comparação que tem origem nos diversos canais que atravessam a cidade, pertence à Flandres ocidental e encontra-se próxima no Mar do Norte. Esta cidade é mundialmente conhecida pela arquitectura medieval e como tal não podia começar este artigo sem vos dar uma pequena introdução histórica. Durante a Idade Média, Bruges foi um importante porto comercial, principalmente para a venda e compra de lã e tecidos. No entanto, no século XVa deposição de sedimentos nos diversos canais da cidade tornaram a navegação difícil e a cidade foi perdendo a importância: Antuérpia passou a ser o principal porto do país. Apesar desta perda de importância, Bruges permaneceu no mapa mundial como epicentro artístico e culturalando uma riqueza única e distintiva à cidade. Os séculos XIX e XX registaram marcos importantes: no século XIX houve uma enorme aposta no turismo e a cidade voltou a recuperar economicamente; esse investimento culminou na declaração da cidade como Património da Humanidade pela UNESCO em 2000.

Saímos do Luxemburgo em direção à capital belga, mas o destino do nosso primeiro dia na Bélgica não era Bruxelas, mas sim Bruges. Acordámos e após o pequeno-almoço, apanhámos o comboio para esta famosa cidade belga. Não sei se Bruges é a cidade das 4 estações, mas é um facto que no mesmo dia tivemos sol e chuva, mas nada disto é um impedimento para se explorar uma cidade como esta. Na verdade, a chuva até traz outro encanto. As primeiras impressões foram deliciosas! O Natal fazia parte da decoração e misturava-se com as casas medievais, lojas de waffles, esquinas com a venda de batatas fritas e lojas dedicadas ao mundo imaginário do Harry Potter: tudo transportou através da imaginação, para a famosa Diagon Alley. Sou um apaixonado por cidades com arquitectura medieval!

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A primeira paragem foi o Groeningemuseum (Museu Groeninge): um museu de arte localizado na Dijver 12, um dos pontos turísticos mais importantes da cidade. Fundado em 1869, recebeu o nome da família que doou grande parte das obras de arte: aqui podemos encontrar pinturas de artistas flamengos como Jan van Eyck (1390-1441), Hans Memling (1430-1494) e Hieronymus Bosch (-1519). Sem dúvida um sítio interessante para se visitar! Escassos metros nos separam da segunda torre em pedra mais alta do mundo (115 metros), a mesma pertence a uma imponente igreja: Onze-Lieve-Vrouwekerk (Igreja da Nossa Senhora). Localizada na praça de Mariastraat, começou a ser construída no século XIII e tornou-se num exemplo notório da arquitectura gótica na Bélgica. A imponente torre não é o único ponte de interesse, na verdade a principal atração tem poucos metros de altura: uma escultura de mármore “Madonna and Child” de Michelangelo Buonarroti (1475-1564). Uma imponente nave central, várias capelas laterais decoradas com arte sacra e um órgão são outros atrativos que podem ser observados nesta igreja.

Os museus são sempre uma forma de aprendermos sobre a cultura de uma cidade, região ou país; principalmente se estivermos a falar de culturas fortemente orgulhosas das suas raízes. A Bélgica e, nomeadamente, a região da Flandres vibra com o que é local: não é de estranhar que os museus deem uma enorme importância aos seus artistas. Gosto sempre de visitar as catedrais, Sé, pequenas igrejas ou outros locais de culto: não porque sou religioso, mas porque são obras arquitetónicas de grandes dimensões e guardam segredos que não esperávamos encontrar. Quem é que nunca ficou maravilhado por entrar num edifício de pedra e ver que por dentro está algo nunca imaginado? Basta mencionar a Mesquita-Catedral de Córdoba (que visitei recentemente) para encontrar um destes momentos. Bruges tem segredos em cada edifício!

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Era hora de almoçar quando olhámos para um restaurante e vimos uma hamburgueria que tinha a mítica banda de rock Queen como temática: o Bohemian Burgers. É verdade que não entrámos à primeira, tínhamos a ideia de almoçar no Mercado de Natal, mas não conseguimos resistir. Depois do almoço, foi hora de percorrer as ruas da cidade para explorarmos a beleza do Natal e sentir a energia da cidade. O Mercado de Natal, ou Kerstmarkt em neerlandês, está localizado, maioritariamente, na Grote Markt (praça principal). Aqui, podemos desfrutar das mais diversas atrações, do artesanato típico e uma variedade enorme de iguarias. Este ano, o Mercado natalício de Bruges vai funcionar de 24 de Novembro de 2023 até 7 de Janeiro de 2024.

Muita gente podia pensar que é só mais um Mercado de Natal e não deixa de ser verdade, mas é um Mercado de Natal numa cidade medieval! Só isto é suficiente para me abrir o apetite e deixar com a “pulga atrás da orelha”. Cada Mercado de Natal tem o seu encanto e para mim a envolvência deste Mercado é o que lhe dá magia a este; não posso dizer que é melhor ou pior que os outros, mas posso dizer que se tiverem oportunidade não deixem de ir a Bruges no Natal.

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Em Bruges, podemos encontrar um local que passa despercebido a quem não tem a maior das atenções: sendo um local de culto religioso com um significado tão importante e vincado, é lógico que não seja publicitado da mesma forma que um museu. À entrada temos uma placa com uma contextualização do local e algumas regras que precisam de ser seguidas, as habitantes deste local não gostam muito de ser incomodadas! Begijnhof é um conjunto de casas onde as beguinas (mulheres religiosas) costumavam viver e na verdade ainda há casas que são habitadas. Este complexo de casas de tijolo no estilo gótico, foi fundado no século XIII e era o local onde estas mulheres podiam rezar e ter uma vida de freira, mas sem serem oficialmente declaradas como tal; ou seja, tinham a liberdade total e podiam ter posses. Aqui, podemos encontrar a igreja de São Salvador e um museu dedicado à História das beguinas e apesar do jardim que compõe o átrio deste complexo ser totalmente visitável (a par da igreja) é de salientar que sendo um local de culto existem regras que têm de ser respeitadas: uma delas é fazer o menos barulho possível.

Falar de uma cidade na Flandres e não mencionar a paixão deste povo pelo ciclismo é como ir ao Vaticano e evitarmos dizer que o Papa vive ali. Pois bem, para um fã de ciclismo andar nestas cidades é algo delicioso: há bicicletas em todo o lado, temos parques de estacionamento para bicicletas e é uma cidade que dá o mote para uma corrida do escalão mais alto do ciclismo mundial a Classic Brugge–De Panne. Em Bruges e em toda a região da Flandres, o ciclismo é uma parte intrínseca do quotidiano.

É nestes locais que nos sentimos pequenos independentemente de acreditarmos em algo: seja numa entidade superior ou em algo mais mundano. Ninguém está certo ou errado, só temos de respeitar e ser respeitados! O Begijnhof foi um dos locais mais únicos que visitei, nunca tinha visto algo do género e muito menos no meio de uma cidade turística. É um refúgio de tranquilidade no coração de Bruges e uma paragem obrigatória. Os fãs de ciclismo e do Tintin não têm motivos para não gostar desta cidade! Num edifício antigo encontrámos uma loja que combina toda a cultura pop e desportiva desta cidade. Bruges é a união perfeita entre o moderno e o clássico, entre a tradição e inovação.

Bruges é muito mais do que eu trago aqui e, como tal, deixo-vos o deixo o itinerário daquilo que considero obrigatório visitar, de forma que possam complementar a informação que vos trago.