Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Raw Traveller

Explorar o mundo através das lentes: um blog de viagem e natureza, onde as fotografias são a principal inspiração para a criação de narrativas visuais únicas, repletas de detalhes e curiosidades.

Raw Traveller

Explorar o mundo através das lentes: um blog de viagem e natureza, onde as fotografias são a principal inspiração para a criação de narrativas visuais únicas, repletas de detalhes e curiosidades.

10 de Março, 2023

À descoberta da Serra do Marão - Não vais acreditar na paisagem!

Tinha ficado decidido que o último fim-de-semana de Fevereiro seria dedicado a explorar Amarante (um post que irei trazer na próxima semana) e que iríamos aproveitar a viagem para passar por Gondomar de forma a visitar o parque das serras do Porto, mas uma curta viagem de carro num dia de trabalho fez com que o plano mudasse. "Alerta amarelo de tempo frio com previsão de queda de neve para as regiões acima dos 1000 metros" disse o radialista. Depois de a minha namorada dizer que havia um alerta de neve e de eu ter confidenciado o que tinha ouvido, o plano sofreu um revezo! "A serra do Marão está mesmo ao lado e tem mais de 1000 metros!"... Uma frase simples que catalisou a vontade de ver neve, aliada à vontade de explorar a Serra do Marão.

Localizada no Norte de Portugal, a serra com características xistosas e graníticas está catalogada como a sétima maior elevação da região continental com os seus 1416 metros. Os seus picos rochosos, vales profundos, bosques e cursos de água são alguns exemplos da beleza natural que podemos encontrar nesta serra. Todos estes elementos são um deleite para os amantes de natureza e fotografia.

O dia começou com uma curta pausa para almoço em Amarante onde nos deliciamos com um magnífico brunch no Terrasa. Findo o almoço, foi hora de rumar serra a cima! Uma pequena paragem na bomba de gasolina fez com que todas dúvidas sobre a existência de neve se dissipassem. " De manhã um camionista que vinha de Vila Real disse que a zona do túnel já tinha vestígios de neve", estas palavras ecoaram na minha cabeça e o entusiasmo aumentou. Hora de começar a subir!

O primeiro ponto de paragem era o Parque de Lazer da Póvoa que parecia ter umas pequenas cascatas e um bosque bastante interessante para se fotografar. Não esperávamos ver neve nessa zona, mas a atmosfera estava bastante interessante. A montanha com a sua combinação de árvores, rios e nuvens (dando lugar ao nevoeiro) criou um cenário impressionante ao longo da estrada. Pois bem, não consigo dizer se o parque de lazer é de facto interessante ou não!

Dias antes de partirmos para a serra, eu fiz uma breve preparação do que podia haver para ver. Como o objectivo era fotografar eu queria ter a certeza que ia ter aos sítios certos. Sabia que não ia conseguir ir aos melhores sítios, mas podia tentar minimizar essa sensação de FOMO. Entre pesquisas no Google Maps e pesquisas de trilhos no Altrails, rapidamente apontei dois ou três sítios que pareciam promissores. No entanto, um pormenor tornou-se óbvio; sendo uma serra pouco explorada pelo turismo, as estradas pareciam ser quase todas de terra batida. Rapidamente confirmamos in loco que esta informação era verídica: um carro ligeiro tem alguma dificuldade em chegar a certos pontos, não é que seja uma gravilha muito técnica, mas o tempo estava húmido e isso fez com que o terreno ficasse mais técnico. Chegámos a um campo de futebol (um campo de futebol numa aldeia no meio do nada, por esta não esperava) onde a gravilha começou a ficar mais técnica e como não queríamos ficar presos, decidimos abortar a ideia de ir ao Parque de Lazer da Póvoa. Plano A falhou! Resta tentar chegar ao Miradouro Senhora da Serra (1416 metros) onde a probabilidade de neve era grande. 

Foi hora de abrir o Google Maps para conseguir procurar caminhos asfaltados para chegar ao topo. Uns minutos depois, arrancamos por estradas que nos transportaram para aquilo que eu imagino que seja um cenário típico nos Picos da Europa ou nos Pirenéus. De 100 em 100 metros era momento para tentar encostar e tirar umas fotografias. Parar, abrir a mala, tirar o tripé, ligar a máquina... tudo fluía naturalmente como se de um bailado se tratasse e com o entusiasmo de uma criança a entrar numa candy shop. O nevoeiro cobria os pinheiros que ladeavam a estrada, marcada por muros de pedra, que seguia aos zing-zags até desaparecer de vista. Ao fundo o canto da natureza tocado pela "orquestra" regida pelo maestro "rio"... tudo isto parece um cenário tirado de um filme, mas na verdade fica a 1h e pouco do Porto. Foi como preencher uma tela em branco com as diferentes partes do cenário presenteado pela natureza. Só que em vez de uma tela eu tinha um sensor pronto para captar diferentes visões da mesma estrada. Não vou mentir ao dizer que cada fotografia representa parte de uma pequena área. Vinte metros e uma meia dúzia de passos foi o necessário para tirar cinco ou seis fotografias das quais me sinto orgulhoso. E a fotografia não é isso mesmo? É aproveitar ao máximo uma zona para conseguirmos contar toda a sua história. Tive a audácia de pensar que me senti o Amadeo de Souza-Cardoso a "pintar" a paisagem que se encontra à minha frente. 

Hora de regressar ao carro (regressar é como que diz! Estava a menos de 5 metros dele) e partir para o topo mais alto da Serra de Marão. As horas avançavam e nós não sabíamos como ia ser o caminho daqui para a frente, a única certeza é que era sempre a subir. Uns km's mais à frente e vemos neve! O alcatrão recente deu lugar a uma estrada estreita com um precipício do lado direito e fomos nós num modesto Renault Clio escoltado por carros 4x4 que eram capazes de fazer aquela estrada a uma velocidade aterradora. A escolta de luxo ajudou a apaziguar a alma, pois eram grandes o suficiente para me ajudarem a navegar e ao mesmo tempo serviam para a abrir a estrada de forma a não haver encontros inesperados com os carros em sentido oposto. Na minha cabeça só havia dois pensamentos: "até onde consigo ir?" e "a neve está a aumentar." A chuva deu lugar à queda de neve e uns metros mais à frente entrámos num planalto com espaço para todos pararmos. 

A minha cabeça olhando para fora da janela só dizia "Uma fotografia, e ali outra, e outra"... e com este pensamento lá fui eu tirando as fotografias. A neve é algo desafiante de se fotografar; se por um lado temos de ter um bom conhecimento da nossa máquina para evitar que ela leia a exposição como estando sobre-exposta, por outro estamos a lidar com um manto branco que se não for usado com algum rigor, vai levar a que as fotografias fiquem aborrecidas. Nestes casos gosto de jogar com o contraste e de manter as coisas simples, não vale a pena complicar. Uma árvore é sempre um óptimo candidato, o escuro de rochas semi-descobertas contrastam bem com o branco da neve. São estes os pensamentos que eu aconselho a que alguém que queira fotografar nestas condições. Se há algo que me arrependo é de não ter usado a neve a cair de forma a criar uma fotografia mais dinâmica.

Mas do nada tudo mudou! O nevoeiro deu lugar a um céu azul que ajudou a revelar a paisagem que tínhamos à nossa frente. É incrível como o tempo a estas altitudes pode ser tão inconstante, sendo que esta bipolaridade só serviu para criar novas fotografias. E foi com este cenário que rumamos ao ponto mais alto. Com alguma surpresa, reparamos que estava um pastor com o  rebanho a descer toda a colina que levava à capela da Nossa Senhora da Serra e instantaneamente a reacção foi pegar na máquina. Estamos em Portugal, mas podíamos estar nas Highlands escocesas. Todo aquele cenário transportava-nos para as zonas mais rurais do UK. É de afirmar que a serra do Marão é um local a voltar. 

A alma está cheia... é hora de regressar a Amarante.