Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Raw Traveller

Explorar o mundo através das lentes: um blog de viagem e natureza, onde as fotografias são a principal inspiração para a criação de narrativas visuais únicas, repletas de detalhes e curiosidades.

Raw Traveller

Explorar o mundo através das lentes: um blog de viagem e natureza, onde as fotografias são a principal inspiração para a criação de narrativas visuais únicas, repletas de detalhes e curiosidades.

15 de Setembro, 2023

A avifauna do Percurso de Salreu: alguns exemplos de espécies que podemos encontrar.

Na passada semana fui explorar o Percurso de Salreu (percurso que revisito desde 2016) e sendo a Bioria um ex-líbris na observação de aves, é de esperar que o principal objectivo destas visitas seja a fotografia de vida selvagem. Desta feita, decidi falar-vos de algumas espécies que podemos encontrar ao longo do Percurso de Salreu, mas preciso de reforçar a ideia de que uma visita ao local não significa que vão encontrar as espécies aqui mencionadas (ou qualquer outra). Muitas das vezes estamos a falar de observações ocasionais que nunca se voltarão a repetir. Se de facto quiserem investir tempo em explorar a avifauna e aprender mais sobre as espécies, recomendo que vejam o hotspot do Ebird e que procurem as espécies no site Aves de Portugal. O principal objectivo deste post é mostrar um pouco do que podemos encontrar e criar curiosidade para visitarem a Bioria e os seus diversos percursos.

Vou começar por falar de três espécies que podemos observar com regularidade ao longo do percurso (não esquecer que algumas não estão presentes durante todo o ano!) e de seguida falo de mais algumas espécies que considero ter mais interesse para se observar e fotografar

De forma a vermos a cegonha branca Ciconia ciconia basta olhar para a ponte que passa por cima da linha do Norte, onde estão os seus ninhos com uma ou duas crias (ninho que só existe na época de nidificação). No entanto, durante o resto do ano são facilmente avistadas a alimentar-se nos campos de arroz alagados. Apesar de ser uma espécie abundante no nosso território, a cegonha-branca é uma ave migradora que vem reproduzir-se aos países com um clima menos rigoroso, como Portugal. Contudo, a abundância de alimento (principalmente dos aterros) fez com que muitos indivíduos deixassem de fazer a anual migração e se estabeleçam como ave residente. Uma nota: se quiserem ver algo extraordinário, recomendo uma viagem até ao cabo Sardão para observarem as únicas cegonhas que nidificam nos penhascos (deixo um link para uma reportagem da National Geographic Portugal). Já lá estive, mas está na lista de locais a regressar. Ao nível da conservação, esta espécie encontra-se classificada, em Portugal, como “Pouco Preocupante”.

1

A fuinha-dos-juncos Cisticola juncidis é uma pequena ave residente em Portugal, principalmente em zonas de seara ou terrenos baldios. O seu tamanho faz com que seja um claro exemplo de uma espécie que é mais fácil ouvir do que ver, principalmente durante o seu voo em zigzag. Esta ave insetívora apresenta um canto bastante único e fácil de identificar, sendo por isso a primeira pista para a localizar no meio dos juncos e da seara que cobre os campos no Percurso de Salreu. É muito normal ficar imóvel a fazer equilibrismo na estrutura fina dos juncos, sendo que a sua tonalidade acastanhada ajuda a criar fotografias abstratas onde a pequena ave fica parcialmente camuflada. Ao nível da conservação, esta espécie encontra-se classificada, em Portugal, como “Pouco Preocupante”.

2

3

A terceira espécie mais comum ao longo deste percurso, e na verdade bastante comum no nosso país, é o pisco-de-peito-ruivo Erithacus rubecula. Este passeriforme de pequenas dimensões, vê os seus números populacionais aumentarem com a chegada de indivíduos migradores durante o Inverno. A fácil identificação dos indivíduos deve-se à presença de uma coloração alaranjada no peito e à vocalização frequentemente emitida. Apesar de curioso, o pisco-de-peito-ruivo não se deixa intimidar pela presença de pessoas e muitas vezes fica a pousar para as fotografias dos mais intrometidos: definitivamente é uma das aves mais bonitas que podemos encontrar no Percurso de Salreu. Ao nível da conservação, esta espécie encontra-se classificada, em Portugal, como “Quase Ameaçado”.

4

No meio da seara, ouvimos vocalizações que vêm de um bando camuflado, mas um pequeno voo rápido revela a espécie em causa: a pequena mancha vermelha no peito aliada à máscara vermelha não deixa dúvidas (em voo conseguimos ver uma mancha vermelha). O bico-de-lacre Estrilda astrild, originário de África, foi introduzido, em 1968, na lagoa de Óbidos, mas rapidamente o número de efectivos aumentou e aconteceu a inevitável expansão deste passeriforme para o resto do território nacional: as aves não conhecem barreiras! Por vezes, conseguimos isolar os indivíduos de forma a criarmos composições simples e minimalistas que com a ajuda do pôr-do-sol, fazem com que a pequena ave brilhe e a sua cor vermelha se destaque.

6

O bispo-de-coroa-amarela Euplectes afer é uma ave da família dos tecelões que foi introduzido no nosso país no final da década de 1980 e tem origem no continente africano. Apesar de ser uma ave abundante durante todo o ano, é entre a Primavera e o Verão que os machos se tornam mais visíveis e de fácil identificação. Estes indivíduos adquirem a vistosa plumagem de forma a tentarem atrair as fêmeas: o amarelo abrange a cabeça, o dorso e a cauda, sendo que as partes inferiores são pretas, o que contrasta fortemente com o tom amarelo. Se o pisco-de-peito-ruivo é uma das minhas aves favoritas, o bispo-de-coroa-amarela figura no meu top de aves favoritas para fotografar. A forma como pousam nos juncos e a sua cor ajudam a criar fotografias simples em que o primeiro plano está desfocado. Esta estética é algo que gosto de explorar nas fotografias de avifauna (e tento transportar para outros géneros), pois ajuda a “guiar” o olhar do observador para o ponto central da fotografia. Se acrescentarmos uma textura mais suave conseguimos criar uma imagem que nos faz lembrar uma pintura.

5

O rouxinol-pequeno-dos-caniços Acrocephalus scirpaceus é outro exemplo de uma espécie que pode ser usada para criar fotografias abstratas e com características semelhantes à fotografia do bispo-de-coroa-amarela. No entanto, traz um desafio: é dificil de observar! Normalmente, só conseguimos ouvir a vocalização e o mais certo é estarmos um bom par de minutos a tentar localizar o indivíduo. O acastanhado sem marcas distintivas faz com que tenha uma camuflagem quase perfeita epesar de ter uma distribuição fragmentada, pode ser observada em Salreu durante o período do Verão. É um bom desafio para um fim de tarde veranil, onde a luz amarela do pôr-do-sol reflete nas suas penas. Ao nível da conservação, esta espécie encontra-se classificada, em Portugal, como “Quase Ameaçada”.

8

9

A ibis preta Plegadis falcinellus é uma ave de grande porte com um aspecto exótico e pode ser encontrada no nosso país durante todo o ano; no entanto, é nos meses de Inverno que os seus efectivos aumentam. No Percurso de Salreu (único sítio da Bioria em que observei esta ave), a sua presença é ocasional, o que faz com que cada um dos seus registos tenha uma importância acrescida. A observação que resultou na fotografia que vos mostro foi bastante peculiar e obra do acaso: em 2016, decidi fazer o Percurso de Salreu após uma semana de chuva intensa. Ia entretido com os meus pensamentos quando ouvi e vi pelo canto do olho algo de grandes dimensões a levantar voo de forma inesperada! Em microssegundos pensei que fosse uma cegonha, mas a forma curvada e longa do bico, o tom uniformemente castanho-escuro e a reflexão esverdeada nas asas não deixaram dúvidas. Só tive tempo de pegar na máquina e carregar no obturador (felizmente estava ligada)! Segundos separam o sucesso do falhanço e por isso temos de estar sempre preparados para sermos surpreendidos. Ao nível da conservação, esta espécie encontra-se classificada, em Portugal, como “Regionalmente Extinta”.

7

O guincho-comum Chroicocephalus ridibundus é uma ave pouco cativante no mundo na ornitologia: ou porque é uma invernante abundante de fácil identificação ou porque é “só” uma gaivota. Mas do ponto de vista fotográfico é uma espécie que pode produzir resultados interessantes. Esta gaivota branca e prateada com patas vermelhas e de pequena estatura, pode ser vista na praia junto de bandos de gaivota. Mas, após tempestades é comum observar indivíduos em zonas mais interiores e a Ria de Aveiro fornece um abrigo ideal em dias de intempérie. Esta fotografia foi criada num dia de tempestade e usei uma poça de água para refletir a sua imagem. Mais uma vez, desfoquei o primeiro plano para levar o observador directamente ao guincho-comum e o tom moody ajuda a transmitir uma sensação de Inverno e de pouca luz. Ao nível da conservação, esta espécie encontra-se classificada, em Portugal, como “Pouco Preocupante”.

10

12

11

O Peneireiro cinzento Elanus caeruleus é a minha ave de rapina favorita e por isso não podia faltar neste artigo. Apesar de não ser a única ave de rapina que pode ser facilmente vista durante o Percurso de Salreu, é efectivamente aquela que apresenta a característica mais interessante. A sua coloração única de tons cinza-claro e asas escuras em contraste com os ramos secos da árvore que serve de poiso, faz com que seja facilmente observada. Ao fim do dia podemos ver os indivíduos a planar sobre os campos com o objectivo de encontrar alimento: esta é a característica que dá nome à espécie e que faz com que seja uma ave fácil de fotografar. Outra característica interessante e que dá uma dimensão extra às fotografias em plano apertado desta espécie é a coloração vermelha dos seus olhos: os mesmos olhos que nos vêem muito antes de nós a vermos. Se forem ao Percurso de Salreu percam tempo a olhar para o cimo das árvores mortas; a probabilidade de verem esta espécie é grande. Ao nível da conservação, esta espécie encontra-se classificada, em Portugal, como “Quase Ameaçado”.

13

14

15

Não podia terminar este artigo sem falar da ave mais emblemática do Percurso de Salreu: a Garça vermelha Ardea purpúrea. Não sendo uma ave residente, a sua observação só pode ser feita na altura do Verão e é na Ria de Aveiro (tendo a Bioria como epicentro) que podemos encontrar a maior concentração de colónias reprodutoras em Portugal. Esta espécie da família das garças apresenta uma plumagem com tons de vermelho e púrpura que fazem com que fique destacada em relação ao ambiente. Mas muitas vezes passa despercebida ao observador menos atento, pois consegue permanecer imóvel na vegetação alta durante longos períodos. Na época de nidificação, esta espécie emite várias vocalizações quando está perto dos ninhos escondidos na vegetação alta; nesta altura, muitas das observações são auditivas e não visuais. No entanto, é frequentemente avistada, ao fim do dia, a vaguear os campos de cultivo à procura de alimento. Ao nível da conservação, esta espécie encontra-se classificada, em Portugal, como “Em Perigo”.

17

16

 

10 comentários

Comentar post